O QUE FOI O GOLPE DE 2016?
Em
2014,
o déficit fiscal dobrara (perfazendo 6,2% do PIB, contra 3,1% em
2013); o superávit primário virou déficit primário, e aumentou em
6% a relação dívida bruta/PIB, o que levou Delfim Netto a anunciar
estar o Brasil diante de um “precipício”. A queda de Joaquim
Levy, em finais de 2015, e sua substituição pelo responsável pela
pasta de Planejamento, Nelson Barbosa, saudada como uma virada
“desenvolvimentista” do governo Dilma, não mudou praticamente
nada, continuando o “ajuste” de seu predecessor, nas suas linhas
gerais, sem conquistar por isso maior estabilidade política. Pois a
partir do último trimestre de 2015, e no primeiro de 2016, os
indicadores econômicos mostraram índices de catástrofe, com o país
ingressando na sua pior recessão histórica, de caráter não apenas
conjuntural, mas implicando um retrocesso estrutural da economia
brasileira, evidenciado nos índices de investimento, em especial na
Petrobras. Os investimentos em geral mais do que quadriplicaram entre
2004 e 2013; a partir de 2014, o quadro se reverteu. Os investimentos
das estatais caíram para R$ 95 bilhões nesse ano (com o grupo
Petrobras sendo responsável por R$ 82 bilhões dessa queda). Em 2015
eles caíram para R$ 23 bilhões, com estimativa para 2016 de apenas
R$ 20 bilhões.
A
inversão de tendência para o período 2015-2019 reduziu os
investimentos em quase 25% em relação ao projetado (de US$ 130
bilhões para US$ 98 bilhões, aproximadamente), com
“desinvestimentos” (venda de ativos) pela Petrobras de US$ 15,1
bilhões para 2015-2016: “A depressão nos mercados financeiros
parece ter um componente especulativo importante, que convém aos
interesses de uma minoria aplicadora nos mercados financeiros e
também dos grupos sociais internos e externos que se beneficiam da
recessão econômica nacional”, leia-se o grande capital
financeiro, que o governo encabeçado pelo PT (que lhe proporcionou
seus maiores lucros históricos no período de bonança) tentou sem
sucesso seduzir no período de retrocesso econômico. A dívida
pública pulou para R$ três trilhões, com um PIB (e uma arrecadação
fiscal) em retrocesso, e com manutenção de isenções fiscais
anuais de R$ 458 bilhões (o equivalente a 17 anos de Bolsa Família)
para as grandes empresas, sem contar o incremento da sonegação
fiscal (a dívida ativa da União se situava na casa de R$ 1,5
trilhão, quase metade da dívida pública), com cortes no orçamento
federal superiores a R$ 30 bilhões (afetando principalmente a saúde
e a educação) incapazes, no entanto, de conter o déficit fiscal
galopante. Nesse quadro, havia no Brasil um enfrentamento brutal
entre frações capitalistas, que concluiria num percurso golpista.
Na
agenda política foi posto um ajuste extraordinário nos direitos
trabalhistas para resgatar à Previdência Social como fonte de
financiamento da acumulação de capital. Após a crise econômica se
abater de forma fulminante, Dilma sofreu um desgaste profundo. Em
meio à crise e a inúmeras denúncias de corrupção, seu governo
tentou realizar um ajuste fiscal contra os interesses da grande
maioria da população, primeiro timidamente, no final de seu
primeiro governo com o então ministro Guido Mantega, e depois de
forma mais agressiva com o ministro Joaquim Levy. O desgaste acabou
numa guerra aberta com o Congresso, representado pelo presidente da
Câmara, Eduardo Cunha. Aos poucos, tanto a tropa de choque de
Eduardo Cunha, quanto os deputados da base do governo (os que não
faziam parte do PT e do PC do B) e os da oposição fecharam questão
no impeachment para colocar um governo que os blindasse da operação
Lava-Jato e realizasse um ajuste fiscal que fosse realizado sem meias
medidas, um governo que defendesse os interesses do grande capital e
salvasse o regime político do total esgotamento, evitando que fossem
consumidos em escândalos de corrupção e por delações premiadas,
com um amplo apoio da grande imprensa e da mídia em suas diversas
tendências, da classe média reacionária (os chamados “coxinhas”)
e da quase totalidade dos partidos políticos burgueses.
A
agenda política era ditada pelos agentes do grande capital, a
começar por Henrique Meirelles, representante dos grandes banqueiros
e presidente do Banco Central no governo Lula. Lula ficou réu em
sete ações penais, três das quais pela operação Lava Jato, uma
pela Operação Janus e uma pela Operação Zelotes. A questão do
impeachment do governo eleito polarizou o país e o dividiu em campos
políticos opostos; nas manifestações de rua em favor da queda de
Dilma Rousseff houve a presença de grupos que reivindicaram uma nova
intervenção militar. A possibilidade de um “golpe branco”, como
o que derrubou os governos de Lugo e Zelaya no Paraguai e em
Honduras, entrou na agenda política. A corrupção na Petrobras, seu
motto
político, foi apenas a ponta do iceberg de uma crise econômica sem
precedentes, de alcance regional e internacional. A razão para que
um sistema de propinas que datava dos anos 1990, pelo menos, fosse só
agora evidenciado, sendo que entre os golpistas se encontravam
corruptos notórios e denunciados, foi criar o clima político para
leiloar o capital petroleiro acumulado por Petrobras, una empresa
mista entre o Estado brasileiro e as Bolsas de Valores de São Paulo
e Nova York.
The
Wall Street Journal
descreveu a crise brasileira como “um abismo econômico em meio a
um caos político”. A produção industrial brasileira se situava,
em julho de 2016, pouco acima do nível de 2003. O jornal das
finanças norte-americanas advertiu que o país possuía uma dívida
pública (interna e externa) que atingia um trilhão de dólares,
estando prestes a chegar a 80% do PIB, e se alarmou pela dívida
privada de quase U$S 300 bilhões, cujo serviço crescia a um ritmo
de 14% anual. Petrobras tinha uma dívida paraestatal de U$S 150
bilhões, dívidas fiscais por R$ 160 bilhões e dívidas
previdenciárias por R$ 20 bilhões; a cotação de seu capital
acionário retrocedera 85%, situando-se pouco acima de U$S 20
bilhões. Mediante o impeachment, o grande capital buscou instalar um
governo de ajuste contra os trabalhadores. A crise abrangeu o
conjunto do regime político. As sondagens demonstravam um repúdio
popular tanto a oficialistas como opositores. Os cidadãos, inclusive
uma parte importante dos trabalhadores, não perceberam, porém, que
o comando da saída política estava nas mãos dos que defendiam a
derrubada do governo. Em 16 de março de 2016 Lula foi nomeado para o
cargo de ministro-chefe da Casa Civil, substituindo Jaques Wagner. A
cerimônia de posse foi realizada no dia seguinte no Palácio do
Planalto. Alguns juristas criticaram a nomeação por verem o
objetivo de obter foro privilegiado para Lula; houve protestos de rua
animados pelos “coxinhas” em 18 estados e no Distrito Federal.
Três juízes federais concederam liminares barrando a nomeação,
mas foram revertidos por instâncias superiores. O ministro Gilmar
Mendes, do STF, no entanto, suspendeu a nomeação, em ação
apresentada pelo PSDB e o PPS. Na decisão, o ministro afirmou ter
visto intenção de Lula em fraudar as investigações sobre ele na
Operação Lava Jato.
No
meio da agitação parlamentar e extraparlamentar, o Poder Executivo
enviou ao Congresso o Projeto de Lei (PL) 257/2016, sobre o
refinanciamento da dívida dos estados, acentuando as linhas da Lei
de Responsabilidade Fiscal: concessão (entrega) de empresas estatais
ao setor privado como garantia da amortização das dívidas,
restrições ao reajuste salarial do setor público (previsto, no
entanto, na Constituição), suspensão de contratações, redução
de 95% para 90% do limite de despesas com pessoal do Estado, inclusão
orçamentária como despesa de pessoal das contratações de mão de
obra terceirizada (realizadas com frequência via empresas mafiosas),
convênios e contratação de “organizações sociais”, etc. Como
prêmio para esse empenho, a Câmara de Deputados, menos de um mês
depois do envio do PL, votou o impeachment da presidente. A burguesia
brasileira e o grande capital financeiro “enviaram” assim seu
próprio “PL”: um ajuste econômico ainda muito mais violento
contra os trabalhadores. Sem dúvida, “a base da insatisfação
contra Lula foi a classe média. Sua razão estava nos números”
(aumento dos aluguéis e do trabalho doméstico muito superior ao
IPCA). Segundo André Singer, a frente contra o “ensaio
desenvolvimentista” do governo Dilma foi engrossada pelos
industriais devido às políticas favoráveis aos trabalhadores dos
governos petistas (elevação do salário mínimo e distribuição de
renda).
Em
reunião plenária do Senado, a 11 de maio de 2016, foi aprovado, por
55 votos favoráveis e 22 votos contra, a admissibilidade do
impeachment de Dilma Rousseff, afastada do cargo por um período de
até 180 dias, para que o processo fosse concluído com sua
previsível destituição (para a qual bastavam 54 votos do Senado).
Um mês antes disso, um conceituado jurista, vinculado às Forças
Armadas e conspícuo defensor do impeachment, afirmou o que segue, no
exato dia da votação da matéria na Câmara de Deputados: “A
presidente Dilma tornou o país ingovernável, sem condições de
reverter a recessão, o desemprego, o crescimento da inflação para
dois dígitos, os juros altos e a pestilência da corrupção que
inundou sua administração. O impeachment será, pois, julgado
politicamente à luz do imperativo da governabilidade do país e dos
elementos jurídicos que o embasam”. Em bom português: os
“elementos jurídicos” do impeachment eram apenas funcionais à
questão central da capacidade ou da incapacidade do governo para
enfrentar a crise econômica e política, ou seja, possuíam uma
função ornamental.
O
impeachment de Dilma Rousseff, só por causa disso, podia ser
qualificado como um golpe de Estado. O impeachment brasileiro pôs na
berlinda um prato que vinha sendo cozinhado como alternativa política
havia mais de um ano (ou seja, apenas três meses depois da posse do
governo Dilma II) em reuniões mensais de parlamentares opositores e
situacionistas (da “base aliada”), além de juristas e
economistas de todas as cores políticas e ideológicas, reuniões
organizadas por um deputado federal piauiense do PSB em Brasília.
Tudo concluiu na apresentação da moção de destituição da
presidenta por juristas de origens políticas diversas, como Hélio
Bicudo e Miguel Reale Jr, além de uma professora de Direito da USP
desconhecida do grande público. Que o impeachment estivesse sendo
preparado quase desde o início da quarta administração petista
tinha um significado político que transcendia sua circunstância
imediata. Dilma Rousseff foi, no momento de suas duas vitórias
eleitorais, qualificada (ou melhor, desprezada) como um “poste”
de Lula não só pela oposição, mas também pelos aliados
parlamentares do PT, partido responsável pela vitória eleitoral da
coalizão que a tinha como candidata presidencial. Sua substituição
por um vice-presidente peemedebista que ninguém ousaria qualificar
de “poste” significa que foi usada como “escada” para a
chegada ao poder do partido mais fisiológico e coberto de denúncias
de corrupção do país, que não teria podido conseguir esse feito
por si só, posto que amargara resultados eleitorais lamentáveis em
todas as eleições posteriores à “redemocratização”
brasileira em que apresentou candidatos presidenciais próprios.
Em
setembro de 2016, a votação do impeachment na Câmara de Deputados
apresentou um espetáculo digno de um circo, capaz de desmitificar
todo o regime político vigente no país. Dos 513 deputados
presentes somente cem, menos de 20%, poderiam mostrar um currículo
não manchado pela corrupção. Para dez deles só caberia, como
notou um correspondente estrangeiro, o qualificativo de assassinos.
Isso explica que o julgamento político da presidenta se baseasse em
denúncias sobre as pedaladas fiscais, ou seja, sobre a maquiagem das
contas públicas para esconder o déficit público, prática muito
comum, que já fora usada no passado pelo governo federal de Fernando
Henrique Cardoso, e continuava sendo usada por governos estaduais
encabeçados por partidos favoráveis ao impeachment. O relator do
impeachment no Senado, o ex-governador mineiro Antônio Anastasia,
também praticara no seu estado as “pedaladas” pelas quais se
destituiu a titular do Poder Executivo federal.
Não
entraram no rol das acusações contra Dilma as denúncias de
corrupção na Petrobras e sua rede de empreiteiras. A omissão se
deveu ao fato de que os deputados que propuseram e votaram o
impeachment carregam nas costas também denúncias de corrupção
nesse assunto. A lista era encabeçada pelo presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, possuidor de contas no exterior não declaradas,
negadas em depoimento juramentado (embora comprovadas pela Justiça),
que não se apresentou à citação da Justiça amparando-se nos
foros parlamentares. Até um afilhado político de Cunha (Fábio
Cleto, vice-presidente da Caixa Econômica Federal) denunciou seu
padrinho como beneficiário de uma propina de R$ 52 milhões em
apenas um de seus “negócios” escusos. Denúncias desse tipo
também atingem o vice-presidente, “presidente em exercício”,
Michel Temer. A pressa em votar o impeachment respondeu ao interesse
de garantir a impunidade dos acusadores. Por isso, o presidente da
comissão de impeachment no Senado, Raimundo Lira (PMDB), decidiu não
incluir as denúncias da “Lava Jato” no processo de julgamento da
presidente.
Em
editorial de 30 de abril de 2016, a Folha
de S. Paulo,
partidária ostensiva do impeachment, titulou seu editorial
principal: “Chega de Cunha”, consciente de que a presença do
ultracorrupto deputado à frente do processo de destituição
presidencial lhe tirava até os enfeites mais elementares da chamada
“legitimidade política”. O STF, como se sabe, atendeu o pedido.
Diga-se, de passagem, que o “fora Cunha” do jornal da família
Frias foi proposto depois que, no dia seguinte à votação na
Câmara, o setor mais graúdo da imprensa internacional, a começar
pelo The
New York Times,
titulasse ironicamente que corruptos reconhecidos destituíam uma
presidente contra a qual não existia nenhum cargo dessa natureza, em
um processo judicial motivado pela corrupção. A votação
parlamentar em favor do impeachment superou todos os prognósticos
prévios, reunindo 367 votos. Os deputados que estavam indecisos se
inclinaram pelo “sim” devido à pressão exercida por grandes
empresários e grupos de interesse que financiaram suas campanhas
eleitorais.
A
classe empresarial inteira trabalhou em favor do impeachment de
Dilma, incluindo a passagem para o campo do golpismo da burguesia
industrial de São Paulo, que até havia pouco era parte da base
social e política do governo de coalizão encabeçado pelo PT; uma
burguesia afetada economicamente pela concorrência da China,
especialmente as grandes siderúrgicas. A classe empresarial apoiou o
golpe para brecar os processos contra inúmeros grandes empresários.
Marcelo Odebrecht, na prisão, se somou à “delação premiada”
para reduzir sua pena e blindar sua empresa das consequências
patrimoniais derivadas da punição econômica pelas propinas pagadas
nos contratos da Petrobras. A Folha
informou: “(A ministra do STF) Carmen Lúcia homologou as 77
delações (o que) significava que as informações dadas pelos
executivos da empresa ganhavam validade jurídica, podendo ser usadas
para abrir outras investigações. A delação do fim do mundo foi
dividida em duas partes. Em novembro de 2016, Marcelo conversou com o
juiz Sérgio Moro na condição de delator da Lava Jato”.
O
protagonismo de Sergio Moro, de um lado, e o do STF, pelo outro,
configuraram uma situação inédita. O Poder Judicial passou a
substituir o Poder Legislativo e, parcialmente, o próprio Executivo
– fato derivado originalmente da própria Constituição de 1988,
que “ampliou os poderes dos órgãos da Justiça e, como
desdobramento, o STF adquiriu um protagonismo incomum”. Lembre-se
que, de todos os poderes, o Judiciário é o único a não estar
submetido ao escrutínio eleitoral popular. A partir do processo de
impeachment de Dilma Rousseff, iniciou-se um processo no qual se
produziu “a superexposição de boa parte dos ministros, que
comentam publicamente temas em julgamento, prática inaceitável em
democracias tradicionais”. Segundo o jurista, isto configurou uma
“supremocracia”, uma “incidência recorrente do Supremo na vida
brasileira, dando a última palavra em questões de natureza
política, moral, tributária”. Isso configurava uma crise em
regra de todo o regime político, incapacitado para atuar segundo
seus próprios princípios e bases institucionais.
A
Andrade Gutierrez, do seu lado, se adiantou às consequências
judiciais da Lava Jato e se prontificou a devolver um bilhão de
reais aos cofres públicos, em oito prestações (uma cifra que
deixava entrever o tamanho das negociatas propiciadas pelo histórico
“modelo de negócios” da maior empresa do país). O impeachment
escondeu um golpe de estado para levar ao poder uma aliança
apadrinhada pelas Forças Armada, encabeçada por una fração que
operou como aliada do governo de Dilma Rousseff, junto com setores
opositores. Seu dirigente principal foi Eduardo Cunha: o Supremo
Tribunal Federal demorou o julgamento do presidente da Câmara dos
Deputados, réu desde janeiro de 2016, dispensado de suas funções
depois de ter realizado o “trabalho sujo”. Assim voltou à
titularidade do Poder Executivo, depois de mais de um quarto de
século de ausência (e saudades) o MDB que, na definição do
senador pernambucano Jarbas Vasconcelos, “é uma confederação de
líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90%
deles praticam o clientelismo, de olho principalmente no cargo, para
fazer negócios, ganhar comissões. Manipulação de licitações,
contratações dirigidas, corrupção em geral”.
André
Singer lembrou que “quem começou a mudança regressiva foi Dilma
Rousseff, ao escolher o caminho do ajuste recessivo no final de 2014,
associado a cortes de benefícios, como o auxílio-desemprego... Em
janeiro de 2016, Dilma defendeu a necessidade de uma reforma da
Previdência e, em março, o ministro da Fazenda Nelson Barbosa
apresentou um projeto para criar um limite legal para o crescimento
do gasto público”, ou seja, o programa executado pelos golpistas.
O impeachment de Dilma esteve baseado em argumentos jurídicos e
políticos que, se aplicados rigorosamente, derrubariam todos os
governos estaduais do país: a manutenção de operações de crédito
(“pedaladas fiscais”) de 2014 em 2015, com atrasos nos repasses
obrigatórios ao Banco de Brasil e ao BNDES; omissão de passivos no
BB, na Caixa Econômica Federal, no BNDES e no FGTS, nas estatísticas
da dívida pública de 2015; abertura de créditos suplementares por
meio de decretos não numerados e incompatíveis com a meta de
resultado primário das contas públicas. O chefe do Bank
of America
Merrill Lynch (BofA) não se fez de rogado para declarar no day
after
que o impeachment era só a primeira condição imposta ao Brasil
pelo capital financeiro internacional: “O fluxo estrangeiro não
virá imediatamente após o impeachment. Esse evento é apenas o
primeiro ponto de um ‘check-list’ que deverá ser monitorado pelo
estrangeiro e que inclui também a aprovação da PEC (Proposta de
Emenda Constitucional) de gastos e a reforma da Previdência, entre
outras reformas”. Quem duvidasse que o Brasil continuava uma
semicolônia das potências capitalistas teve suas dúvidas
resolvidas.
O
Tesouro repassara mais de R$ 500 bilhões ao BNDES nos últimos anos.
Temer propôs que fossem devolvidos ao Tesouro Nacional R$ 40 bilhões
de imediato, recebendo outra parcela de R$ 30 bilhões dentro de um
ano e mais R$ 30 bilhões em 24 meses, totalizando R$ 100 bilhões. A
expectativa de Henrique Meirelles era gerar uma economia de R$ 7
bilhões ao ano no pagamento de subsídios relativos aos empréstimos
do BNDES. Isto não lhe impediu propor novos mecanismos que
limitariam ainda mais os gastos do governo federal com saúde e
educação. Em substituição das “campeãs nacionais”, o governo
golpista promoveu as “campeãs estrangeiras”: um projeto aprovado
pelo Senado Federal alterou as regras de exploração de petróleo do
pré-sal. De autoria de José Serra (PSDB), ministro das Relações
Exteriores, o projeto retirou da Petrobras a exclusividade das
atividades no pré-sal e acaba com a obrigação de a estatal a
participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os
consórcios de exploração da camada. A “burguesia nacional”
jogou a toalha: a ex “base aliada” do PT se alinhou com os
agentes do capital financeiro internacional.
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